segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Getúlio Vargas: 55 anos depois, o legado sobrevive

Do Escrevinhador


No dia 23 de agosto de 1954, Getúlio Vargas mandou avisar, através do jornal "Última Hora", o único que não aderira à campanha contra seu governo: "Só saio morto do Catete".

A UDN e Carlos Lacerda - que queriam depor o presidente - acreditaram que era um blefe.

No dia 24 de agosto, há exatos 55 anos, Vargas cumpriu a promessa: deu um tiro no peito e adiou por dez anos o golpe da direita.

Quatro décadas depois, a nova UDN tentou matar Vargas pela segunda vez. Fernando Henrique Cardoso prometeu "enterrar a era Vargas". Não conseguiu.

O mito se esvaece, mas Vargas sobrevive no Estado brasileiro

Curiosamente, há pouca gente no Brasil hoje que se define como "getulista". O culto a Vargas, felizmente a meu ver, não existe. Mas Vargas sobrevive no Estado brasileiro.

O BNDES é Vargas, os bancos públicos são Vargas, a Petrobrás é Vargas, a Previdência Social (cheia de defeitos, mas um dos maiores programas sociais do mundo) é Vargas. E o Bolsa-Família, de certa forma, também é Vargas.

Outro fato curioso: na Argentina, Perón sobrevive como um mito. Ele e Evita são cultuados. Mas o Estado que ele criou não existe mais. Foi desmontado por um "peronista", Carlos Menem, que levou o neo-liberalismo ao pé da letra.

Na Argentina, o mito de Perón sobrevive, enquanto o Estado peronista desapareceu.

No Brasil, o mito de Vargas se esvaeceu. Mas, no Estado brasileiro, Vargas sobrevive.

Para mim, é prova de que a obra dele foi maior, muito mais duradoura, do que a obra de Perón.

A idéia do Estado forte está entranhada na mente dos brasileiros. Maior prova disso é a foto boçal do candidato udenista, em 2006. Alckmin precisava provar que não venderia o Estado brasileiro, como fizera o governo de seu partido nos anos 90. É a prova maior de que FHC falhara na tentativa pretensiosa de "enterrar a era Vargas".

Curiosamente, também, no comando do Estado brasileiro hoje está uma facção politica que fazia a crítica de Vargas. Lula e os sindicalistas do ABC pensavam que iriam "superar" Vargas. Influenciados pelos acadêmicos paulistas, como Weffort (que era tucano, mas esquecera de avisar), reduziam Vargas com dois conceitos simplistas: "populista" e "paternalista".

Por ironia da história, o governo Lula a meu ver passou bem pela grave crise internacional porque soube manejar bem os instrumentos criados por Vargas.

Guido Mantega, ironizado pelos sabichões tucanos das PUCs e USPs, conduziu com maestria o contra-ataque à crise. Manejando bem as alavancas do Estado. Os bancos públicos ajudaram a destravar o crédito. Se tivéssemos vendido tudo, como queriam os tucanos, qual ferramenta teria o Brasil para enfrentar a crise?

O Guido Mantega, com seu sotaque de genovês, mas com seu apreço pelo Brasil, pode não saber: mas ele também é um pouco Getúlio Vargas.

O Estado - demonizado nos anos 90 - ajudou a salvar o Brasil da crise...

Getúlio Vargas foi um ditador. Foi. Ponto. O Estado Novo foi uma ditadura.

Mas reduzir Vargas a isso é pensar pequeno.

O Brasil precisa lembrar do Vargas dos anos 50: eleito pelo povo, nacionalista, indepedente. Lembrar dele não como um mito, acima do bem do mal. Mas como prova de que o Brasil dá certo. Sempre que abandona o complexo de colônia, e age com independência, o Brasil cresce e melhora.

Lembrar o suicídio de Vargas é lembrar, também, que a UDN sobrevive. Com outros nomes. Mas, como há 55 anos, a UDN sonha com o golpe. Eles vivem de golpes. É preciso enfrentá-los.

Há 55 anos, sem saída, Vargas deu um tiro no peito.

Hoje, simbolicamente, o tiro tem que ser na direção do inimigo. Na direção daqueles que - como há meio século - querem retomar o Estado para vender o Brasil.

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