segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

As Patricinhas de SP e seus playboys do mercado financeiro - É de morrer de rir

Entranhas da elite

Foi muito bom a Folha ter exposto, na coluna deste domingo de Mônica Bergamo, as entranhas desse mundinho hipócrita, consumista, fútil e preconceituoso em que chafurda a tão decantada "elite branca" paulistana.

Seus medos patéticos, seu tratamento vulgar do amor e do sexo, seus preconceitos ao chamar descendentes de negros de "baianos", esse apego patologicamente egoísta e insano aos bens materiais e às aparências formam a imagem que essa gente não vê no espelho.

Aplaudo efusivamente essa matéria da Folha porque deixou claríssimo como esse estrato social parasita é patético e exclusivamente dependente de (muito) dinheiro para ser feliz.

As esposas e namoradas desses golden boys da globalização, ora tão depressivos por verem todos os paradigmas nos quais acreditaram toda vida desmoronarem como castelo de cartas, mostram que estão à altura deles e que lhes constituem o merecido castigo.

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Folha de São Paulo, 7 de fevereiro de 2009 - Caderno Ilustrada - Mônica Bergamo

Crise? Credo!

Quatro mulheres de investidores financeiros se reúnem em um bar em São Paulo e contam ao repórter Paulo Sampaio os efeitos da quebradeira internacional em seu relacionamento conjugal

Elas contam que "foi difícil". A empresária e profissional de marketing Mariana Campos Barbosa Lima, 34, diz que seu marido "head trader" (consultor financeiro) ficou "mudo". O da joalheira Lyna Carbone Jenner, 30, um investidor do ramo imobiliário, passou a tomar antiácido. O namorado da consultora Ana Carolina Almeida, 29, captador de recursos para crédito externo, parou de mandar a "flor mensal". O da estilista Fernanda Almeida, 29, um corretor de títulos de valores mobiliários, repetia: "Você não sabe como eu tô pobre". Em Nova York, a crise econômica levou mulheres de financistas de Wall Street a criar o Daba ("Dating a Banker Anonymous", ou "Namoradas de Banqueiros Anônimas"), um grupo de apoio mútuo às desoladas garotas (leia box).

FOLHA - Como seus maridos e namorados reagiram à crise?

MARIANA BARBOSA - O meu [marido], que fala pelos cotovelos, ficou mudo.

ANA CAROLINA ALMEIDA - O Cris dormia e acordava com a TV na Bloomberg [canal inglês que transmite as variações do mercado internacional]. Começou a tomar remedinho pra dormir, apareceram alguns cabelos brancos.

MARIANA - No Marcelo, teve um agravante: ele perdeu o ânimo. A gente parou de sair. E meu marido é "o incluído social". São três almoços todo sábado. Não que eu não goste de ir, mas a gente vai por algo além do prazer. Ele acha que precisa.

FOLHA - A crise levou a cortar gastos domésticos?

MARIANA - Temos uma regra em casa. Tudo pode faltar, menos a babá.

FOLHA - Houve mudança no tratamento deles com os outros?

ANA - O Cris perdeu aquela alegria. Nas férias, a gente viajou pra dentro do Brasil. Foi um lugarzinho bárbaro, em Santa Catarina. Era mais pra não gastar dinheiro.

MARIANA - Pra não gastar em dólar, né, Aninha?

FOLHA - E o assunto entre eles?

ANA - Os homens se uniram.

MARIANA - O Marcelo nunca foi de entrar em casa falando ao telefone, mas ele simplesmente não esgotava o assunto.

FOLHA - E o humor?

ANA - De primeiro, o Cris até ficou irritado; depois, carente.

FERNANDA ALMEIDA - O meu caso era completamente diferente de tudo o que eu tô ouvindo. Pelo menos em casa, ele dizia: "Vamos evitar esse assunto".

TODAS - Nossa, que maravilha!

MARIANA - Amigas, nossas histórias são café pequeno perto de outras. Tenho uma conhecida que a vida do marido acabou. Ele perdeu dinheiro aplicado da família inteira. Da irmã milionária, do irmão triliardário. Esse cara é mais velho, quase 50, daquela fase que os nossos meninos não pegaram, em que um cara, com 30 anos, já tinha feito US$ 2 milhões.

FOLHA - Mas hoje ainda existe esse negócio de conquistar o primeiro milhão?

MARIANA - Ôpa! A coisa mais comum nesse meio é ouvir: "Como assim, você vai ter um filho antes de fazer o primeiro milhão de dólares?".

FERNANDA - [Séria] É uma ideia muito idiota!

AS OUTRAS - É, mas existe!

MARIANA - Eles falam sério! Te chamam de irresponsável.

FOLHA - E eles têm esse dinheiro?

MARIANA - Têm...têm, têm.

FERNANDA - Mas quem inventou isso? Você faz parte de qual porcentagem do PIB nacional?

MARIANA E ANA - Não, Fernanda, isso é conversa de roda no mercado financeiro.

LYNA JENNER- É papo de menino. É o equivalente a: "Como você não tem uma enfermeira, só uma babá?".

FOLHA - Costuma-se dizer que o investidor do mercado financeiro valoriza o status proporcionado pelo que é caro.

TODAS - Ôpa, sem dúvida!

MARIANA - O carro, o relógio, o sapato.

ANA - Principalmente o carro.

FOLHA - Qual o carro do Cris?

ANA - [Rindo] Ele comprou um Freelander [Land Rover].

LYNA - O Cris [são dois com o mesmo nome] é bem consumista. Sapato, roupa... o carro é uma BM[W].

MARIANA - Quando eu comecei a namorar o Marcelo, achava que ele era milionário. Eu nasci bem, morei em Nova York, mas, mesmo assim, ele me impressionou. Pensei: "Que sorte encontrar um cara lindo, rico...". Ele morava sozinho em um apartamento enorme, de quatro quartos, na Vila Nova Conceição, e era chiquérrimo nos detalhes: na abotoadura, no bico do sapato. Ele sempre diz: "Para alguém colocar o dinheiro comigo, tem que acreditar que eu sou muito rico, muito próspero".

FOLHA - A crise mudou isso?

LYNA - O que mudou foram os planos de comprar uma casa no campo, fazer uma megaviagem pra St. Barths, pra Europa.

FOLHA - Parece mais frustrante ainda para quem costuma planejar o que vai fazer com o dinheiro que ainda não ganhou.

LYNA - A vida continua.

FOLHA - Fora ganhar dinheiro, do que os rapazes gostam?

ANA - O Cris ama vinho. Tem duas adegas, que deram uma boa esvaziada. E, no auge, ele não repôs. Só agora, recentemente.

FOLHA - Como é a casa de um investidor como o Cris?

ANA - Ele mora em um apartamento de homem, no Morumbi. São três quartos, mas ele quebrou um com a sala e tem um escritório.

FOLHA - Fernanda falou pouco...

FERNANDA - Meu namorado não segue esse estereótipo, sapato, relógio. Ele se mudou agora para um apartamento melhor, comprou jipe.

FOLHA - Que jipe?

FERNANDA - Acho que é Santa Cruz... [com expressão de quem pede socorro] ou Veracruz?

MARIANA - Tem os dois.

FERNANDA - Veracruz, então. LYNA - Mais de R$ 100 mil.

FOLHA - O.k., mas como foi então que ele sentiu a perda de dinheiro?

FERNANDA - Ele dizia: "Você não sabe como eu tô pobre!". Eu o animava. Outro dia fomos comer num japonês que é mais carinho e vivia lotado, estava vazio. Mas a gente tava lá.

FOLHA - Ele não é consumista?

FERNANDA - Não, gasta com vinho e comida.

MARIANA - É que o mercado financeiro tem as miniturmas. A do polo, a do golfe...

FOLHA - Você conhece a "miniturma do polo"?

MARIANA - 90% do mercado financeiro faz polo. Na crise, meu marido não jogou nenhuma vez. Custa uma fortuna. Tem que ter sete cavalos. Então, nessas sutilezas é que você sente a crise.

FOLHA - Os especialistas dizem que é comum haver problema sexual em homens que enfrentam crises.

TODAS - Siiiiim [mas ninguém diz que aconteceu consigo].

LYNA - Eu estava de resguardo.

ANA - Eu só vejo o Cris no fim de semana, então não mudou.

FOLHA - Uma amante faz parte do arsenal de status do investidor?

FERNANDA - Claro, de todos. ANA - Eu não penso nisso. MARIANA - Não é coisa de investidor, é de homem.

FOLHA - Recentemente, entrevistei um psicanalista que acredita que os investidores escolhem suas mulheres pensando mais em fazer uma dupla social boa do que no amor.

MARIANA - Rola isso, sim. É até feio falar, mas a ex-namorada do Marcelo era uma "baianinha". Tenho certeza de que o fato de eu ter morado no mundo inteiro, falar línguas, conhecer pessoas o levou a pensar: "Vou ficar com esse fim de mundo [a "baianinha"] ou fazer essa troca?". E me escolheu.

ANA - O Cris tem pavor de mulher feia. Gorda? Não pode ver.

FOLHA - Como enfrentar a crise?

MARIANA - Quando a gente pensava em abrir um vinho de preço exorbitante, o Marcelo dizia: "Não vamos abrir esse, não. Vai que a gente precise vender...".

Todas riem muito.

ANA - É cada coisa louca. A gente ficava imaginando vender o carro e ter que andar num "Unozinho", sei lá, vender a casa, sabe quando você começa a pensar? Vender a mãe pra recuperar o que eu perdi e investir...


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