quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A REAÇÃO SILENCIOSA

Eduardo Guimarães:
Pela primeira vez, em quase três anos, parei de escrever. E foi por quase três dias inteirinhos. É que não andei bem. E não foi só porque me abateu, como não acontecia há muito tempo, que uma de minhas filhas tenha ido estudar do outro lado do mundo, na Austrália, por um ano. Houve outros fatores que me desanimaram. Creio que muita gente já notou como, neste mês, recrudesceu a industrialização do alarmismo pela mídia, alarmismo que pretende intimidar a sociedade, trabalhadores e empresários, de forma que consumo e investimentos sejam paralisados, objetivando que a economia seja mais afetada pela crise internacional, pois a situação atual, na qual o Brasil tornou-se a melhor economia do mundo, a que melhor está resistindo à crise, é inaceitável para aqueles que, há mais de seis anos, tentam convencer o povo de que o governo Lula é ruim, visando que o presidente da República não consiga fazer seu sucessor e, assim, que derrote novamente, por interposta figura, o governador de São Paulo, José Serra, o pré- candidato declarado a presidente em 2010, aquele que pretende a retomar o controle do Estado para a direita brasileira.
Num momento em que o Brasil brilha diante do mundo assumindo a honrosa posição de única economia entre as 35 maiores que, de acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), será muito pouco afetada pela crise internacional em comparação com as tragédias econômicas que estão se abatendo sobre os outros 34 países que integram o organismo multilateral, a mídia tenta roubar dos brasileiros esse momento ímpar em nossa história, minimizando-o enquanto distorce fatos, tentando transformar problemas controlados e localizados na economia em sinais de desastre iminente. Isso me desanimou. As manipulações da grande imprensa me desanimaram. Quando comecei a ver as tentativas de transformar a modesta turbulência nos índices econômicos em crise generalizada, transformando até as 744 demissões de empregados temporários da GM em indício de surto de desemprego, e sabendo como esse alarmismo pode realmente aprofundar a crise ao assustar empresários e trabalhadores, levando-os, respectivamente, a demitir e a não consumir, paralisando assim a economia, tive vontade de ir para a praça pública com um megafone gritar meu inconformismo, minha revolta.
Em seguida, pego um jornal que estava à mão numa empresa em que estive ontem, o Estadão. Vejo, na capa, chamada para artigo de um tal de Roberto alguma coisa no caderno de variedades do jornal. O título do artigo dizia que o presidente Lula não gosta de ler e, em meia página de jornal, o articulista começou a contar a novidade das novidades, de que a leitura engrandece as pessoas. O indivíduo distorceu criminosamente a declaração de Lula dada à revista Piauí de que não gosta de ler os Estadões da vida porque, como é óbvio, tornaram-se panfletos da oposição que tentam desmoralizá-lo. Novamente quis gritar. Lula diz que não gosta de ler os jornais que lhe fazem oposição e que o insultam e o tal Roberto sei-lá-do-que reduz a frase a “Lula não gosta de ler”. Fiquei desanimado porque não via como seria possível mudar essa situação. O fato é que ninguém tem como criar um, apenas um mísero jornal, uma única tevê que não faça política, mas jornalismo, que preste um serviço público à sociedade, informando-a corretamente, não mentindo, não distorcendo os fatos, não inventando notícias, não ajudando criminosos como fez a Folha de São Paulo com Daniel Dantas... É preciso dinheiro, muito dinheiro para criar um grande meio de comunicação. Nem o governo federal consegue. A tevê pública é apenas uma sombra e sempre será, pois o povão que assiste o Jornal Nacional não gosta de qualidade, quer lixo como o que uma Globo, um SBT etc., veiculam.
O primeiro ímpeto foi o de correr ao computador para escrever, para denunciar, para exercer, meramente, meu “jus esperneandi” (direito de “espernear”). Contudo, como se não bastasse a tristeza da separação de minha filha, dei-me conta de que eu iria pregar para convertidos, para aqueles que já sabem de tudo que eu diria e que constituem apenas uma parcela (reduzida) da sociedade, pois interessar-se pelas grandes questões contemporâneas ao ponto de ler sobre elas é só para a elite intelectual de um país inculto, em que a maioria só pensa em futebol, carnaval e na própria sobrevivência cotidiana, sem entender que é na política que se traçam os rumos da nação. Foi então que uma adaga de luz mental cortou a escuridão como faca corta manteiga, revelando-me que, por mais que eu acredite que não há solução para combater eficientemente essas aberrações que são os grandes meios de comunicação, o processo que poderá mudar tudo isso foi desencadeado, sim, a partir deste governo.
A questão toda, é uma só: educação. Só a educação é capaz de conscientizar as pessoas, de mostrar a elas que não “gostar” de política é a atitude mais estúpida que existe. Afinal, a educação permite às pessoas perceberem o que está acontecendo de verdade. Vejam que mesmo esse setor elitista – cada vez menos representativo – que não reconhece o que este governo tem feito, não reconhece por malandragem. Essas pessoas sabem que o país é bem governado hoje, mas não admitem porque acham que os pobres estão sendo muito beneficiados e a elite pode vir a perder com isso. Daí atacam o governo, tentam desmoralizá-lo para que não tenha continuidade, para que Serra desarticule a ascensão intelectual dos mais pobres. Ora, este governo não pode criar uma Globo ou uma Folha, mas pode promover a revolução na educação que está promovendo, dando acesso à universidade a pobres, investindo no ensino fundamental e médio como nunca, e, mais do que tudo, promovendo a maior inclusão digital do mundo, de forma que cada vez mais brasileiros tenham acesso a informações que os grandes meios de comunicação tradicionais tentam esconder ou mutilar.
Não é à toa que Lula permanece sereno diante do que faz a mídia. Ele está trabalhando para minar-lhe o poder. E jogou isso na cara dos magnatas da informação em sua contundente entrevista concedida à revista Piauí, o que os fez, tomados pela ira dos déspotas, mandarem seus sabujos escreverem artigos como o do tal Roberto não-sei-das-quantas lá do Estadão, por exemplo, que mentiu descaradamente para tentar enervar o presidente, pois a mídia sabe como a inclusão digital e a educação estão destruindo seu monopólio do poder de informar. Só quem parece que não sabe disso somos nós, os que nos deixamos abalar com as bofetadas que a mídia nos desfere até dentro de nossas casas, na tevê. A reação do governo Lula à mídia, ocorre em silêncio. Ele não xinga, não grita, não perde a compostura. Ele é um homem do povo que chegou aonde chegou e é isso o que faz com que confie nesse povo. Ele sabe que, dando instrumentos aos brasileiros, eles descobrirão tudo o que gostaríamos de dizer em alto e bom som. Descobrirão isso na intimidade de seus lares, sob a luz de seus intelectos cada vez mais aprimorados.

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