Por Eduardo Guimarães do site Cidadania.com
Tudo que direi aqui decorre de “pesquisa” empírica que fiz sobre o noticiário internacional relativo à crise. Várias pessoas (incluindo leitores) no exterior – sobretudo minha filha Gabriela, que está na Austrália há 18 dias – têm sentido substancial diferença do comportamento das mídias de outros países em relação à crise, comportamento que difere flagrantemente do que se vê na mídia do Brasil.
Segundo a Gabriela me disse ontem (quinta-feira) à noite em vídeo-conferência via Skype, nesse tempo em que está na Austrália ela já pôde perceber – um tanto quanto surpresa – o que eu vinha dizendo antes de deixar o Brasil, ou seja, que a mídia brasileira tem sido anomalamente alarmista em relação à crise.
A Austrália, país continental de extensão territorial parecida com a do Brasil, é um país muito rico por várias razões, mas, sobretudo, por conta de seu modesto contingente populacional (cerca de 21 milhões de habitantes), que é quase a décima parte do daqui. Trata-se, pois, de uma população que é a metade da do Estado de São Paulo num país tão grande e cheio de recursos naturais quanto o nosso.
Naquele país, a crise econômica internacional está mais ou menos como a daqui, segundo a imprensa local e mundial. Segundo minha filha, a grande diferença na Austrália é que a imprensa de lá não dá à crise dez por cento do espaço que a nossa imprensa dá, apesar de por lá já ter havido cerca de uma centena de milhar de demissões, só que para uma população que é um décimo da nossa, o que torna o número até mais preocupante.
Também andei trocando e-mails com amigos, clientes e leitores que vivem nos EUA, na Alemanha, em Portugal, na Espanha, na França, no Japão, na Argentina, no Equador, no Peru, na Venezuela e na Bolívia. De todos esses países, só os “americanos” me relataram um nível de exposição da crise na mídia parecido com o que há no Brasil.
Problemas econômicos locais só ganham tanto destaque no Brasil, nos EUA, na Argentina, na Bolívia, na Venezuela e no Equador. Nos outros países mencionados, parece haver uma parcimônia em noticiar os efeitos da crise. Os campeões de masturbação com a crise são os EUA, por razões óbvias, e o Brasil, por razões anômalas.
Essa postura dos países mais civilizados decorre do entendimento de que o alarmismo, o martelar incessante da crise, a exposição desmesurada dos problemas locais trabalham contra os interesses nacionais. Só nos EUA (por razões reais e evidentes) e em países do Terceiro Mundo nos quais a mídia também é contrária ao governo é que a crise está ganhando exposição midiática tão avassaladora.
Como eu disse no início deste texto, é claro que a minha “pesquisa” não é científica, sendo absolutamente empírica. Contudo, o senso comum me parece que está do meu lado.
Minha filha Gabriela só foi me dar razão sobre o alarmismo da mídia brasileira agora que está na Austrália, e meus outros contatos no exterior me relataram o mesmo que ela. Todas essas impressões me fizeram crer que, proporcionalmente, em nenhum outro lugar do mundo se vê bombardeio de más notícias nos meios de comunicação igual ao que há neste país.