O Estado não deve ser pequeno nem grande. Deve ser presente em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país.
Esse investimento do Governo Lula no Ceitec merece todo nosso reconhecimento e torcida para que obtenha êxito.
Segue texto extraído do Blog da Kika (http://kikamartins.blogspot.com/)
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Poderá um projeto de R$ 350 milhões investidos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia dar início a uma grande transformação na indústria eletroeletrônica do País? A pergunta norteia o destino do Ceitec. O centro gaúcho, especializado em semicondutores, foi criado em 2000 como uma associação civil sem fins lucrativos. Em sua origem participavam direta ou indiretamente universidades, empresas e governos das três instâncias. Desde novembro, no entanto, o sonho de cientistas e empresários locais foi transformado em uma sociedade anônima, de propriedade do MCT.
Hoje, na condição de uma empresa privada de capital estatal, o Ceitec tem como missão lançar as bases para a construção de uma indústria de semicondutores no País, competindo local e globalmente com as multinacionais que desenham chips dedicados - usados em celulares, airbags, televisores, sistemas de segurança, identificação animal e milhares de equipamentos e dispositivos estimados em US$ 250 bilhões anuais.
Para dar conta da ambiciosa missão, o centro já conta com uma sede de 5,1 mil metros quadrados onde trabalham 65 engenheiros projetistas no desenvolvimento de seis projetos iniciais. Serão 130 profissionais de design de semicondutores até o final do ano. O Ceitec deverá, ainda, inaugurar em julho uma fábrica de 9,5 mil metros quadrados que este ano produzirá 10 milhões de chips - cujos designs têm dimensões entre 65 e 90 nanômetros, medida equivalente a um milionésimo de milímetro. O foco são projetos que combinem as tecnologias analógica, digital e de radiofrequência. Quando operar a pleno vapor, o complexo industrial poderá produzir até 400 milhões de chips por ano.
Para o alemão Eduard Rudolf Weichselbaumer, empossado em fevereiro depois de participar de um processo de contratação do qual participaram candidatos de todo o mundo, a nova empresa tem tudo para dar certo. Seus planos contemplam o desenvolvimento em grande escala de produtos até 60% mais baratos que os ofertados no mercado internacional, parcerias com empresas globais - condicionadas à transferência de tecnologia -, fluxo de caixa positivo em três anos, abertura do seu capital neste mesmo intervalo e lucro a partir do quarto ano de produção industrial. O modelo de empresa adotado pouco lembra estatais tradicionais, aderindo ao conceito de horizontalidade. Weichselbaumer pretende tocar uma estrutura com poucas diretorias e 90% de pessoas contratadas trabalhando diretamente no desenvolvimento dos chips ou na sua produção. Avesso à burocracia, quer imprimir agilidade nas decisões e processos.
"Vamos trabalhar em produtos que possam ser lançados no mercado em volumes de milhões de unidades", explica Weichselbaumer. Segundo ele, já estão em desenvolvimento três chips com demandas mínimas de 20 milhões de unidades por ano. "Isso, numa projeção conservadora", ressalva. Entre eles estão a versão dois do chip do boi - que permite armazenar todos os dados do histórico de cada animal a ser lido por sensores de radiofrequência, permitindo a rastreabilidade dos animais-, e um modulador de televisão que cumpre e norma brasileira da TV digital e pode ser usado, ainda, nos mercados japoneses ou que usam TV digital de tecnologia japonesa.
"No caso do chip do boi, conseguimos produzir um brinco por R$ 3 a unidade, quando a concorrência vende a R$ 7", informa. Segundo ele, o projeto está na fase piloto, e 15 mil unidades desenvolvidas pelo Ceitec e fabricadas por terceiros serão testadas a partir de junho nos campos de quatro fazendas, numa encomenda do Ministério da Agricultura. Segundo o executivo, este é um exemplo típico de segmento de grandes volumes. Só o Brasil possui 200 milhões de cabeças de gado.
De acordo com o executivo, o segredo do sucesso da empresa de semicondutores pode estar no fato de o Brasil ter entrado por último nesse imenso mercado. "Quem está atrasado pode tirar vantagem da situação e combinar o que há de mais avançado em tecnologia de produção com a adoção dos processos mais baratos do mercado", argumenta. Segundo ele, a prática do "benchmark", isto é, o estudo que procura conhecer o estado da arte da concorrência - seja no design, nas funcionalidades dos produtos, nos processos, ou nos materiais usados - é condição para o início dos projetos. Eles são desenvolvidos a partir dos dados coletados globalmente, na concorrência.
"Temos que ser competitivos em todos os segmentos em que entrarmos", justifica o engenheiro. Para o presidente do centro, no entanto, mais importante que fabricar chips é desenhá-los. "É aí que existe valor agregado, é onde detemos as patentes, que é a propriedade intelectual", afirma. Portanto, em sua estratégia, nem sempre o chip desenvolvido no Ceitec será produzido na sua fábrica. "Haverá situações em que a terceirização de alguns componentes fará mais sentido", diz. Principalmente naquelas em que a produção no exterior for mais barata - há plantas imensas com grande ociosidade no mercado internacional - e onde for possível a transferência de tecnologia. Os destinos poderão ser Alemanha, Estados Unidos, ou China continental. "Não tem lógica reinventarmos a roda", diz o presidente.
Segundo Weichselbaumer, o Brasil tem condições muito favoráveis para se tornar um produtor de semicondutores regional. "Já existem hoje cerca de 1,8 mil engenheiros projetistas no País", enumera. "Além disso, há uma indústria de eletroeletrônicos importante aqui". Por fim, lembra, o mercado pode ser uma base de produção para a América Latina.
O engenheiro se mira no exemplo da China. Para ele, vale a pena começar o desenvolvimento de produtos em um nicho, dominar o processo, obter escala e depois diversificar para outros segmentos. Por que, então, não se deu início a uma produção de chips em escala no Brasil mais cedo? "O Ceitec, no passado, com a sua estrutura de associação civil sem fins lucrativos, não tinha o foco empresarial nem escala industrial", diz. Tampouco havia espaço para parcerias com multinacionais. Ou pressão para se obter lucro. Agora, no entanto, tornar-se atraente a novos investimentos e ter agilidade para acompanhar os desafios do mercado serão críticos para a sobrevivência do empreendimento. Não faltam apoiadores nem críticos.
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